Entrevistamos a única mulher que narra em rádio o futebol no Rio de Janeiro. Em mundo extremamente dominado pelo universo masculino, a esperança da igualdade surge com Lucaina Accioly Zogaib.
Por Isadora Oliveira Bento
Se realizarmos uma linha do tempo nos grandes avanços que as mulheres tiveram no Brasil em busca de igualdade nos meios de comunicação no que se refere a coberturas esportivas, com absoluta certeza o ano de 2018 foi um divisor de águas. Foi um ano em que as mulheres começaram a ocupar aquele lugar que seria impossível de tomar dos homens: narrações e comentários dentro dos campeonatos de futebol mundo a fora. Foi nesse ano que também despontou para as mídias uma torcedora apaixonada pelo nosso Flamengo: Luciana Accioly Zogaib, a criadora da frase nas transmissões de futebol “deu onda”.
Luciana sempre teve vontade de trabalhar com o jornalismo e o esporte. Desde cedo tinha colunas em sites e blogs esportivos, até que em 2017 foi convidada para trabalhar em uma emissora de rádio fazendo comentários relacionados ao campeonato brasileiro. Em 2018, surgiu o concurso da FOX onde escolheriam uma narradora para a Copa do mundo da Rússia. Ficando entre uma das 5 finalistas, Luciana foi convidada para a CBV TV. Em 2019 foi o ano da explosão, no mesmo ano em que a torcida rubro-negra conquistava títulos, Luciana conquistava transmissões do Campeonato Carioca, Brasileiro, Sul-americana e Libertadores com em média duas narrações por semana. A narradora dona de uma emoção única, sonha que tenhamos um dia uma locutora na TV Globo, que é a maior referência na TV.
A locutora iniciou sua vida profissional seguindo no ramo farmacêutico com o seu pai. Sua vida esportiva foi praticamente dentro do maracanã, e essa paixão fez com que ela nunca se afastasse do jornalismo. A nossa coluna teve a grande oportunidade de bater um papo com ela, no qual você acompanha de forma resumida a entrevista nas linhas abaixo daquela que hoje nos representa tão lindamente. Valeu Luciana, nossa conversa “deu onda”.
Coluna Delas: A nossa sociedade historicamente teve ao longo dos anos a dificuldade de inserir as mulheres em diversas profissões que até então eram dominadas por homens. Você enfrentou no início resistência para realizar seu desejo profissional?
Luciana: Na época em que eu fiz faculdade, não existiam praticamente mulheres apresentadoras, era muito pouco. O mercado era muito fechado. Acabou que surgiram outras oportunidades em outros ramos que eu fui seguindo. Issoacabou ficando um pouco de lado. Creio que não é que seja uma resistência, na verdade eu não tinha muitas referências naquela época, achava que era algo muito difícil, muito distante, então acabei optando por seguir esse outro ramo que eu entrei. Trabalho a 20 anos nomercado farmacêutico, sou representante de um laboratório em uma multinacional, que acabou me dando uma condição muito boa de trabalho, de oportunidade e de crescimento profissional.
Após um determinado tempo, o amor pelos esportes voltou a acender e Luciana fez uma Especialização em Jornalismo Esportivo.
CD: A paixão pelo futebol veio de casa ou foi fruto da sua vontade de trabalhar com essa profissão?
Luciana: A paixão veio de família sim. Desde pequenos praticávamos esportes. Eu fui atleta de ginástica olímpica, que hoje é ginastica artística, fui atleta federada, competia, treinei durante oito anos. Tenho dois irmãos mais velhos que sempre gostaram de futebol, meu pai também. Sempre morei na Tijuca, aqui perto do Maracanã, então era um programa que era comum do meu pai ir com os meus irmãos. Eu por ser muito agarrada no meu pai comecei a frequentar os estádios bem novinha. Sempre gostei muito mesmo, gostava de conversar de futebol desde muito pequena, até pelada que meus irmãos jogavam com meu pai eu ia assistir. Essa ligação com o futebol veio antes da vontade de trabalhar com isso, foi uma consequência.
CD: No atual cenário existe uma valorização da mulher dentro do meio futebolístico? Poderia descrever como é a receptividade das emissoras e clubes, bem como dos demais profissionais com você?
Luciana: A inserção da mulher de uma forma geral em todas as atividades tem sido cada vez maior, o próprioramo que eu trabalho era algo que no início também eram pouquíssimas mulheres. Hoje talvez sejam mais mulheres do que homens e no jornalismo esportivo também tem crescido bastante. No ramo que eu particularmente estouatuando, que é locução, ainda é bem pouco. Atualmente faço mais o futebol masculino, também já fiz feminino, então acho que o crescimento do futebol feminino possa alavancar, que eles comecem a conduzir equipes femininaspara conduzir o futebol feminino e o desenvolvimento dessas pessoas vai leva-las para o masculino. A gente já vêtambém comentaristas do futebol masculino, repórtersempre teve um pouco mais. Mas principalmente a locução e o comentário ainda é algo que as mulheres entãoiniciando, eu vejo que ainda há uma certa resistência, poucas oportunidades. No rádio que é o que eu faço mais,nas grandes emissoras de rádio quase não tem mulheres, locutoras não tem nenhuma, aqui no Rio sou a únicamulher que narra em rádio, então ainda falta muito apesarde estar melhorando.
CD: No seu ponto de vista, as gestões dos clubes são modelos que devem ser seguidos por outras instituições?
Luciana: Com relação a gestão, acho que não. Pelo contrário, acho que elas devem espelhar-se em gestões de outras empresas. Alguns clubes a gente já vê um pouco mais de estrutura, mas na grande maioria, ainda é um pouco complicado, parte política desses clubes, a forma como os clubes são organizados ainda impede um pouco a questão mais profissional. Uma gestão mais empresarial da coisa, então não vejo como modelo a ser seguido não.Acho que eles que tem que seguir outros modelos.
CD: Você teve alguma inspiração para sua profissão?
Luciana: A grande questão é justamente essa, a falta de referência. Tiveram outras mulheres, minha xará Luciana que narrou na Band, narra atualmente na ESPN, que é um pouco mais antiga, mas ainda assim era pouco. Talvez agora as que venham nessa sequência vão ter em quem se inspirar. Mas eu praticamente não tive essa referência, minhas referências eram masculinas, isso é complicado porque é uma barreira cultural muito grande paraatravessar. O trabalho de locução e o trabalho de comentário são trabalhos que demandam opinião e issovocê vai ter diferente de outras pessoas. A aceitação da opinião de uma mulher ainda tem que ultrapassar barreirase a gente vê isso diariamente com as comentaristas que estão aí, como são criticadas. É algo que a gente tem que vender realmente no dia a dia.
CD: O futebol feminino no Brasil podemos dizer que ainda está engatinhando, mas vem apresentando resultados positivos. Por que o futebol feminino apresenta tantas falhas de infraestrutura? O que falta? É um problema geral ou específico de um clube?
Luciana: Falando especificamente do futebol feminino, já está melhorando. Estamos vendo isso no campeonatobrasileiro este ano. As decisões são nos grandes estádios. Mais ainda falta muito investimento, terceirização. Há a obrigatoriedade, muitos não gostam da obrigatoriedade. Mas acredito ser necessário nesse primeiro momento, caso contrário as pessoas falam: "isso não tem mercado, nãotem qualidade". Mas só terá qualidade se você permitir. Precisa das categorias de base, do investimento da base para uma melhoria técnica da modalidade. Enfim, isso é um trabalho pouco a pouco também, mas tenho visto com bons olhos. Acho que está crescendo, e é esse mesmo o caminho, certamente que no próximo ano vai ter um pouco mais de investimento até que chegue em um patamar legal para o futebol feminino.
Obrigada Luciana Zogaib pela representatividade, e por nos conceder essa entrevista ❤️
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Perfeita demais 😍❤️🖤
Arrasou 😍😍😍
Matéria perfeita, por mais mulheres nos representando no esporte
😍😍😍
A Lu arrasa muito!!!!